sábado, 29 de novembro de 2008

Vitória de Barak Hussein Obama - Uma tradução histórica, cultural e política da globalização


...Quem cede a vez não quer vitória. Somos herança da memória. Temos a cor da noite. Filhos de todo açoite Fato real de nossa história...

Jorge Aragão (Identidade)

A eleição de Barak Hussein Obama, suscitará debates entre os mais miseráveis das sarjetas do Harlem até os maiores intelectuais do Quênia. Este momento marcará para sempre o período da pós modernidade. O Al Qaeda, através do seu número dois, já se pronunciou e tentará levar até o presidente eleito dos Estados Unidos da América o singelo abraço de um homem ou mulher bomba com o apoio da ku klux klan.

A vitória do pai de Malia e Sasha, marido da Sr.ª Michelle, é positivamente simbólica para todos de qualquer etnia, que perseguem seus sonhos em cada lugar do continente, mas é inegável que este símbolo é muito mais forte para o povo negro. Obama, diferente de outros políticos, é ascendente do movimento social, formado em Direito pela Universidade de Harvard, foi líder comunitário, atuando como advogado pela causa dos direitos civis até sua eleição para senador pelo Estado de Illinois.
Sua ascenção é a tradução cultural da identidade pós moderna, aquela identidade que junto com as pessoas, Stuart Hall
[1] chama de dispersadas para sempre de sua terra natal, mas com fortes vínculos de seu lugar de origem. Estes líderes são protagonistas de mudanças revolucionárias em várias partes do globo, onde o destino os coloca. E sua colaboração é trazer o diferente, pensar para além do seu tempo. Esta identidade que Obama mostra ao mundo é o acolhimento de várias experiências passadas na Indonésia, Havaí, Quênia e nas diversas cidades dos estados norte-americanos.

No Brasil, com a provável vitória de um afro-americano se desenhando em uma das maiores potências do mundo, os editoriais e artigos da grande mídia já se pronunciavam uma semana antes contra o uso da identificação de Barak Hussein como negro. Esta questão de trato étnico e cultural deverá acompanhar toda a história do seu mandato.


Alguns fatos anteriores desenharam esta aquarela. Entre eles: a eleição para presidente do torneiro mecânico Luis Inácio Lula da Silva no Brasil em 2002, a força do povo venezuelano que recolocou o comandante Hugo Chaves no seu posto após um golpe de Estado costurado na Casa Branca e patrocinado pela elite venezuelana, a vitória do primeiro indígena na Bolívia em 2006, seguida da derrota do Partido Colorado no Paraguai que após 61 anos no poder, perdeu as eleições em 2008 para o “Bispo dos Pobres” Padre Fernando Lugo. E “para não dizer que não falamos das flôres”, em 2007 no concurso de Miss Universo entre as dez mais belas mulheres do planeta escolhida pelo jurí, três eram negras de países do continente africano e entre estas, uma era careca, quebrando todos os paradigmas identitários que tendiam a marcar este século como esquálido e anêmico. Sem falar na eleição das três mulheres pioneiras em seus países: Angela Merkel-a primeira chanceler da Alemanha, Ellen Johnson Sirleaf eleita presidente da Libéria e a primeira a assumir o poder em um país do continente africano e Michelle Bachelet que foi eleita agora como primeira presidente do Chile.
Os acontecimentos políticos são também culturais e por mais abstratos que pareçam estão reconstruindo identidades, revendo pontos de vistas. A globalização que diminuiu a fronteira da economia de mercado e atinge a todo o mundo, traz também novos símbolos e valores, produtos das mudanças constantes que o conhecimento das realidades mais longíquas, da civilização moderna, acaba influenciando e sendo influenciado pelo mundo globalizado.

Que saibam todos que hoje em qualquer parte do mundo, seja na América do Norte, seja no Quênia. Tudo é possível...

Entre as promessas de campanha de Barak Hussein está a retirada da base militar de Guantânamo em Cuba e a retirada até 2010 das tropas do Iraque. Como presidente de uma das maiores potências mundiais poderá fazer muito mais do que isso, e em suas entrevistas tem deixado claro sua intenção em caminhar em busca da paz. Com isso ganha o EUA que poderá investir em sua população o que investia em material bélico, ganha o mundo com a derrota dos partidários de George Bush, o senhor das guerras. Ganhamos todos nós que acreditamos que a história não é feita pelo desejo de um personagem, ela é dinâmica, está em constante processo de mudança e aperfeiçoamento do ser humano e isso nos obriga a não deixar de sonhar em um mundo diferente e justo. Temos muito a construir para que a evolução não seja só tecnológica ou científica mas atinja também através do entroncamento das culturas, a nossa alma.


Geraldo Bastos
Presidente do Gestar - Grupo de Estudo e Ação Racial

http://www.geraljongobastos.blogspot.com/
geraldobastosvencedor@gmail.com

[1] A identidade cultural na pós-modernidade – ( Stuart Hall 11ª edição, 2006)

Um comentário:

Geraldo Bastos disse...

Eu deveria ter incluído no texto a Mártir Benazir Buttho, porém fica aqui minha lembrança de alguém que em seu país também fez uma tradução histórica e cultural.