domingo, 12 de julho de 2009

TRABALHO DECENTE NO BRASIL

PLANO NACIONAL DE TRABALHO DECENTE
Governo brasileiro institui Comitê Executivo para construção do Plano Nacional de Trabalho Decente
Promoção do trabalho decente tem adesão de 27 governadores e prefeitos do Mercosul
COSTA DO SAUÍPE, BA - No momento em que o mundo atravessa uma crise financeira, aumenta ainda mais o desafio dos governantes na proteção ao trabalho digno e de adoção de políticas que garantam a inclusão de homens e mulheres no mercado formal de trabalho. Foi com base nesse compromisso que 27 governadores, prefeitos e representantes de províncias e departamentos integrantes do Foro Consultivo de Municípios, Estados Federados, Províncias e Departamentos do Mercosul (FCCR) assinaram na tarde da segunda-feira, dia 15, o termo de adesão à Promoção do Trabalho Decente. A formalização do documento foi considerada uma das principais ações ocorridas durante a 4ª Reunião do Pleno do FCCR, quando também foram firmados outros doze convênios e acordos de cooperação bilaterais entre estados brasileiros e países membros do Mercosul, a exemplo da Argentina. A Diretora do Escritório da Organização Internacional do Trabalho (OIT) no Brasil, Laís Abramo, que participou da reunião, destacou: “O compromisso assinado por governadores e prefeitos dará sem dúvida uma grande relevância política a esse processo”. Também participou da reunião o diretor do Escritório da OIT em Buenos Aires, Javier Gonzalez Olaechea, que é o Coordenador das atividades da Organização para o Mercosul.
OBS. Nem o Governo Estadual e nem a Prefeitura assinaram o Termo de Adesão ao Trabalho Decente
A QUESTÃO DO TRABALHO E A MOTIVAÇÃO
* Geraldo Bastos
“Se você quer que as pessoas façam um bom trabalho,
dê-lhes um bom trabalho para fazer.”


Uma das maiores dificuldades na gestão de pessoas são os fatores que geram a motivação para o trabalho. Trabalho na história do Brasil já foi relacionado ao pecado e também a escravidão. Embora o conceito de trabalho hoje incorpore a variante de trabalho nobre, esta incorporação se dá em uma tentativa infeliz, já que a princípio todos os trabalhos são nobre. É claro que na prática alguns acabam sendo mais nobres que os outros sendo assim cria-se categorias de trabalhadores também mais nobres que outros, ou mais gente que outros, talvez mais humanos e até mesmo mais aceitável de existir do que outros. Não é por acaso ainda o grande numero de acidente de trabalho em nosso país.

Para que haja motivação no trabalho é necessário analisar ainda alguns impedimentos organizacionais que fazem com que um trabalho possa ser extremamente prazeroso e outros, inclusive que estão entre os mais nobres (Doutores, Chefes, Executivos, Embaixadores) possam ter em seus quadros, funcionários extremamente infelizes e desmotivados.

É grande a responsabilidade de todos nós que trabalhamos com Gestão de Pessoas estarmos atentos as necessidades constantes de aperfeiçoamento no trato com os colaboradores, sobretudo os colaboradores internos das organizações.

Chamo a atenção para um fato acontecido no mês de abril que até hoje me deixa inquieto. Ainda hoje temos exemplos claros que o trabalho ainda tem muito de escravidão e tirania como deixa claro o Prefeito do Rio de Janeiro, Sr. Eduardo Paes em entrevista ao Jornal o Dia em 05/04/2009. Ao ser indagado pela repórter com a seguinte pergunta:

Entre os secretários o senhor é conhecido por ser muito exigente. Ainda continua ligando para a sua equipe de madrugada para fazer cobrança ? O Prefeito da Cidade do Rio de Janeiro respondeu:

“Eu sou meio pentelho. Tem uma menina aqui que tem a tarefa de fazer uma tabela de promessa. Não para mim, mas dos outros (secretários) comigo...Vou ficar quatro anos atazanando. Quem toma menos de dois comprimido de frontal(tranqüilizante)comigo, eu fico desesperado. Tem secretário que está no terceiro. Começou com meio, eu falei: Vou te fazer chegar a um”. Chegou, eu senti que estava com cara de doidona...Na hora que ela surtar, eu paro”

Esta entrevista foi concedida no dia 04 de abril de 2009, vale ainda a pena por este ato de improbidade administrativa[1], e de Assédio Moral manifestações a respeito do Ministério Público, ou de algum sindicato, ou entidade de direitos humanos que se manifeste e faça valer o artigo 5º da Constituição Federal, pelo menos no parágrafo III[2], não obstante deixo claro que o senhor prefeito tem vários outros códigos, além da Constituição Federal que pode ser ajuizado contra ele. Se o trabalho “nobre” é desta forma tratado como anda o trabalho informal, os camêlos e ambulantes.

Segundo nos orienta os Drs. Francisco Rossal de Araújo, Luiz Alberto de Vargas, Maria Helena Mallmann, Ricardo Carvalho Fraga “O trabalho escravo ou prestado em condições análogas, e outras relações de trabalho sob formas "arcaicas" não são, exatamente, resquícios de tempo pretérito. É preocupante perceber que sobrevivem formas de exploração do trabalho que se julgavam extintas em nosso país. Torna-se mais preocupante, ainda, ver que esses modelos arcaicos convivem com setores produtivos considerados modernos, que se omitem quanto ao problema. Mesmo analisado sob o ponto de vista do sistema econômico, o trabalho escravo ou precário, não só atenta contra a dignidade da pessoa humana, mas também contra o próprio sistema capitalista, pois deforma um dos pilares de sua justificação, que é a livre concorrência. Assim, sob qualquer prisma, o trabalho escravo é um mal que deve ser combatido por toda a sociedade, e não apenas pelo Estado”[3].

É um crime cultural que a Lei 10639/03 ainda não é levada a sério para nos ajudar a aperfeiçoar nossa relação com os direitos humanos e com apropria democracia que era exercida pelos governantes da Cidade Santa de Ile Ifé. Em um caso como este de explicita tirania os Sacerdotes Babaláwos na medida que soubessem do ato tirariam do cargo o prefeito. Mas é claro estou falando de uma sociedade onde os sacerdotes conseguiram estabelecer por 1.400 anos códigos de boa reputação, dedicação e honestidade. Aqui no Brasil e sobretudo no Rio de Janeiro, não há por muitos respeito a diversidade religiosa que se relaciona ao sagrado, quanto mais ao trabalho.

É Claro que é difícil ter motivação para o trabalho em uma sociedade como a nossa. Não é o caso, mas mesmo que ganhassem bem quem consegue estar animado em trabalhar em um local comandado por um realizador destrutivo[4] com necessidades de uso do poder puramente para satisfação pessoal, que aliena as pessoas e destrói qualquer carreira.

Os fatores de motivação no contexto do trabalho são: a realização, o reconhecimento, a carreira, o progresso profissional e o crescimento enquanto pessoa. Por isso é mais fácil conseguir aumento salarial (cultura individualista dos Estados Unidos) do que a mudança da estrutura (cultura coletiva japonesa), pois mudar a estrutura significa levar a sério o ato de administrar criando higiene nos ambientes de trabalho como aponta Herzberg, pois as fontes de insatisfação no trabalho tem mais a ver com o ambiente em que as pessoas trabalham do que com a natureza do trabalho em si. Prova disso é o enorme contingente de professores adoecidos no Estado do Rio de Janeiro por questões ligadas ao ambiente de trabalho.

Muitos sindicatos e até patrões acreditam que só o aumento de salário faz com que se tenha um trabalhador motivado. Segundo Schermerhon[5], a pesquisa de Herzberg mostra que uma base salarial baixa torna as pessoas insatisfeitas, mas que o aumento do salário as torna menos insatisfeita...pagar mais não vai aumentar a satisfação no trabalho, isso depende de uma série inteiramente de fatores, os fatores de motivação...tais fatores incluem o senso de realização, reconhecimento e responsabilidade.
Sendo assim há de se pensar uma política pública para as relações do trabalho com o trabalhador que considere todos os aspectos das necessidades humanas. Pois não basta mais meras recompensas individuais. A sociedade clama por respeito.

[1] O conceito de improbidade é bem mais amplo do que o de ato lesivo ou ilegal em si. É o contrário de probidade, que significa qualidade de probo, integridade de caráter, honradez. Logo, improbidade é o mesmo que desonestidade, mau caráter, falta de probidade.
[2] ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante;
[3] Direito do Trabalho e inclusão - JUS NAVIGANDI
[4] descreve executivos que abusam do poder para satisfazer suas necessidades, segundo a teoria de McClelland.
[5] Fundamentos de Comportamento Organizacional, pág.91

terça-feira, 24 de março de 2009

CADERNOS

A Baixada Fluminense, Região dos Lagos e a Cidade do Rio de Janeiro já conhecem o jornalismo sério, independente e crítico que a Organização Não-Governamental Grupo de Estudos e Ação Racial (GESTAR) produz há 4 anos.Agora, os internautas em geral poderão ficar por dentro dos assuntos e eventos que têm mobilizado os Afro-descendentes no Estado do Rio de Janeiro.Se liga nessa O GESTAR está lançando On-line o terceiro número da revista Cadernos do GESTAR. Nesta edição Você conhecerá:As propostas que foram entregues ao Prefeito de Maricá, Washington Quáquá. O documento é decorrente do I Seminário sobre o Afro-descendente realizado naquele Município; Você sabia que o naturalista Charles Darwin registrou no Século XIX ato de uma Mulher Negra, a Quilombola de Itaocaia?; Também apresentamos a empresária que faz a cabeça das mulheres na Baixada Fluminense;

quinta-feira, 5 de março de 2009

JORNADA DE EDUCAÇÃO PARA IGUALDADE RACIAL NA BAIXADA FLUMINENSE



JORNADA DE EDUCAÇÃO PARA IGUALDADE RACIAL NA BAIXADA FLUMINENSE


Este é um evento organizado pela Ong. Se Essa Rua Fosse Minha, com o apoio da UNICEF e do SESC. Conta ainda com a participação da Prefeitura de São João de Meriti.



Haverá muitos momentos de interação nas oficinas com Educadores da Baixada Fluminense, jovens e crianças. Momentos de aprofundamento sobre o tema com a conferência do Dr. Marcelo Paixão e Dr. José Claudio Alves. Além da apresentação de vários grupos culturais.



sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

CARTA DE MIA COUTO

Senhor Presidente:Sou um escritor de uma nação pobre, um país que já esteve na vossa lista negra. Milhões de moçambicanos desconheciam que mal vos tínhamos feito. Éramos pequenos e pobres: que ameaça poderíamos constituir? A nossa arma de destruição massiva estava, afinal, virada contra nós: era a fome e a miséria.Alguns de nós estranharam o critério que levava a que o nosso nome fosse manchado enquanto outras nações beneficiavam da vossa simpatia. Por exemplo, o nosso vizinho - a África do Sul do "apartheid" - violava de forma flagrante os direitos humanos. Durante décadas fomos vítimas da agressão desse regime. Mas o regime do "apartheid" mereceu da vossa parte uma atitude mais branda: o chamado "envolvimento positivo". O ANC esteve também na lista negra como uma "organização terrorista!". Estranho critério que levaria a que, anos mais tarde, os taliban e o próprio Bin Laden fossem chamadas de "freedom fighters" por estrategas norte-americanos.Pois eu, pobre escritor de um pobre país, tive um sonho. Como Martin Luther King certa vez sonhou que a América era uma nação de todos os americanos. Pois sonhei que eu era não um homem mas um país. Sim, um país que não conseguia dormir. Porque vivia sobressaltado por terríveis factos. E esse temor fez com que proclamasse uma exigência. Uma exigência que tinha a ver consigo, Caro Presidente. E eu exigia que os Estados Unidos da América procedessem à eliminação do seu armamento de destruição massiva.Por razão desses terríveis perigos eu exigia mais: que inspectores das Nações Unidas fossem enviados para o vosso país. Que terríveis perigos me alertavam? Que receios o vosso país me inspiravam? Não eram produtos de sonho, infelizmente. Eram factos que alimentavam a minha desconfiança. A lista é tão grande que escolherei apenas alguns:- Os Estados Unidos foram a única nação do mundo que lançou bombas atómicas sobre outras nações;- O seu país foi a única nação a ser condenada por "uso ilegítimo da força" pelo Tribunal Internacional de Justiça;- Forças americanas treinaram e armaram fundamentalistas islâmicos mais extremistas (incluindo o terrorista Bin Laden) a pretexto de derrubarem os invasores russos no Afeganistão;- O regime de Saddam Hussein foi apoiado pelos EUA enquanto praticava as piores atrocidades contra os iraquianos (incluindo o gaseamento dos curdos em 1988);- Como tantos outros dirigentes legítimos, o africano Patrice Lumumba foi assassinado com ajuda da CIA. Depois de preso e torturado e baleado na cabeça o seu corpo foi dissolvido em ácido clorídico;- Como tantos outros fantoches, Mobutu Seseseko foi por vossos agentes conduzido ao poder e concedeu facilidades especiais à espionagem americana: o quartel-general da CIA no Zaire tornou-se o maior em África. A ditadura brutal deste zairense não mereceu nenhum reparo dos EUA até que ele deixou de ser conveniente, em 1992;- A invasão de Timor Leste pelos militares indonésios mereceu o apoio dos EUA. Quando as atrocidades foram conhecidas, a resposta da Administração Clinton foi "o assunto é da responsabilidade do governo indonésio e não queremos retirar-lhe essa responsabilidade";- O vosso país albergou criminosos como Emmanuel Constant, um dos líderes mais sanguinários do Taiti, cujas forças para-militares massacraram milhares de inocentes. Constant foi julgado à revelia e as novas autoridades solicitaram a sua extradição. O governo americano recusou o pedido.- Em Agosto de 1998, a força aérea dos EUA bombardeou no Sudão uma fábrica de medicamentos, designada Al-Shifa. Um engano? Não, tratava-se de uma retaliação dos atentados bombistas de Nairobi e Dar-es-Saalam.- Em Dezembro de 1987, os Estados Unidos foi o único país (junto com Israel) a votar contra uma moção de condenação ao terrorismo internacional. Mesmo assim, a moção foi aprovada pelo voto de cento e cinquenta e três países.- Em 1953, a CIA ajudou a preparar o golpe de Estado contra o Irão na sequência do qual milhares de comunistas do Tudeh foram massacrados. A lista de golpes preparados pela CIA é bem longa.- Desde a Segunda Guerra Mundial, os EUA bombardearam: a China (1945-46), a Coreia e a China (1950-53), a Guatemala (1954), a Indonésia (1958), Cuba (1959-1961), a Guatemala (1960), o Congo (1964), o Peru (1965), o Laos (1961-1973), o Vietname (1961-1973), o Camboja (1969-1970), a Guatemala (1967-1973), Granada (1983), Líbano (1983-1984), a Líbia (1986), Salvador (1980), a Nicarágua (1980), o Irão (1987), o Panamá (1989), o Iraque (1990-2001), o Kuwait (1991), a Somália (1993), a Bósnia (1994-95), o Sudão (1998), o Afeganistão (1998), a Jugoslávia (1999)- Acções de terrorismo biológico e químico foram postas em prática pelos EUA: o agente laranja e os desfolhantes no Vietname, o vírus da peste contra Cuba que durante anos devastou a produção suína naquele país.- O Wall Street Journal publicou um relatório que anunciava que 500 000 crianças vietnamitas nasceram deformadas em consequência da guerra química das forças norte-americanas.Acordei do pesadelo do sono para o pesadelo da realidade. A guerra que o Senhor Presidente teimou em iniciar poderá libertar-nos de um ditador. Mas ficaremos todos mais pobres. Enfrentaremos maiores dificuldades nas nossas já precárias economias e teremos menos esperança num futuro governado pela razão e pela moral. Teremos menos fé na força reguladora das Nações Unidas e das convenções do direito internacional. Estaremos, enfim, mais sós e mais desamparados.Senhor Presidente:O Iraque não é Saddam. São 22 milhões de mães e filhos, e de homens que trabalham e sonham como fazem os comuns norte-americanos. Preocupamo-nos com os males do regime de Saddam Hussein que são reais. Mas esquece-se os horrores da primeira guerra do Golfo em que perderam a vida mais de 150000 homens.O que está destruindo massivamente os iraquianos não são as armas de Saddam. São as sanções que conduziram a uma situação humanitária tão grave que dois coordenadores para ajuda das Nações Unidas (Dennis Halliday e Hans Von Sponeck) pediram a demissão em protesto contra essas mesmas sanções. Explicando a razão da sua renúncia, Halliday escreveu: "Estamos destruindo toda uma sociedade. É tão simples e terrível como isso. E isso é ilegal e imoral". Esse sistema de sanções já levou à morte meio milhão de crianças iraquianas.Mas a guerra contra o Iraque não está para começar. Já começou há muito tempo. Nas zonas de restrição aérea a Norte e Sul do Iraque acontecem continuamente bombardeamentos desde há 12 anos. Acredita-se que 500 iraquianos foram mortos desde 1999. O bombardeamento incluiu o uso massivo de urânio empobrecido (300 toneladas, ou seja 30 vezes mais do que o usado no Kosovo)Livrar-nos-emos de Saddam. Mas continuaremos prisioneiros da lógica da guerra e da arrogância. Não quero que os meus filhos (nem os seus) vivam dominados pelo fantasma do medo. E que pensem que, para viverem tranquilos, precisam de construir uma fortaleza. E que só estarão segurosquando se tiver que gastar fortunas em armas. Como o seu país que dispende 270.000.000.000.000 dólares (duzentos e setenta biliões de dólares) por ano para manter o arsenal de guerra. O senhor bem sabe o que essa soma poderia ajudar a mudar o destino miserável de milhões de seres.O bispo americano Monsenhor Robert Bowan escreveu- lhe no final do ano passado uma carta intitulada "Porque é que o mundo odeia os EUA?" O bispo da Igreja Católica da Florida é um ex--combatente na guerra do Vietname. Ele sabe o que é a guerra e escreveu: "O senhor reclama que os EUA são alvo do terrorismo porque defendemos a democracia, a liberdade e os direitos humanos. Que absurdo, Sr. Presidente ! Somos alvos dos terroristas porque, na maior parte do mundo, o nosso governo defendeu a ditadura, a escravidão e a exploração humana. Somos alvos dos terroristas porque somos odiados. E somos odiados porque o nosso governo fez coisas odiosas. Em quantos países agentes do nosso governo depuseram líderes popularmente eleitos substituindo-os por ditadores militares, fantoches desejosos de vender o seu próprio povo às corporações norte-americanas multinacionais? E o bispo conclui: O povo do Canadá desfruta de democracia, de liberdade e de direitos humanos, assim como o povo da Noruega e da Suécia. Alguma vez o senhor ouviu falar de ataques a embaixadas canadianas, norueguesas ou suecas? Nós somos odiados não porque praticamos a democracia, a liberdade ou os direitos humanos. Somos odiados porque o nosso governo nega essas coisas aos povos dos países do Terceiro Mundo, cujos recursos são cobiçados pelas nossas multinacionais."Senhor Presidente:Sua Excelência parece não necessitar que uma instituição internacional legitime o seu direito de intervenção militar. Ao menos que possamos nós encontrar moral e verdade na sua argumentação. Eu e mais milhões de cidadãos não ficamos convencidos quando o vimos justificar a guerra. Nós preferíamos vê-lo assinar a Convenção de Kyoto para conter o efeito de estufa. Preferíamos tê-lo visto em Durban na Conferência Internacional contra o Racismo.Não se preocupe, senhor Presidente.
A nós, nações pequenas deste mundo, não nos passa pela cabeça exigir a vossa demissão por causa desse apoio que as vossas sucessivas administrações concederam a não menos sucessivos ditadores. A maior ameaça que pesa sobre a América não são armamentos de outros. É o universo de mentira que se criou em redor dos vossos cidadãos. O perigo não é o regime de Saddam, nem nenhum outro regime. Mas o sentimento de superioridade que parece animar o seu governo.O seu inimigo principal não está fora. Está dentro dos EUA. Essa guerra só pode ser vencida pelos próprios americanos.Eu gostaria de poder festejar o derrube de Saddam Hussein. E festejar com todos os americanos. Mas sem hipocrisia, sem argumentação e consumo de diminuídos mentais. Porque nós, caro Presidente Bush, nós, os povos dos países pequenos, temos uma arma de construção massiva: a capacidade de pensar.Mia Couto
Março de 2003

sábado, 29 de novembro de 2008

Vitória de Barak Hussein Obama - Uma tradução histórica, cultural e política da globalização


...Quem cede a vez não quer vitória. Somos herança da memória. Temos a cor da noite. Filhos de todo açoite Fato real de nossa história...

Jorge Aragão (Identidade)

A eleição de Barak Hussein Obama, suscitará debates entre os mais miseráveis das sarjetas do Harlem até os maiores intelectuais do Quênia. Este momento marcará para sempre o período da pós modernidade. O Al Qaeda, através do seu número dois, já se pronunciou e tentará levar até o presidente eleito dos Estados Unidos da América o singelo abraço de um homem ou mulher bomba com o apoio da ku klux klan.

A vitória do pai de Malia e Sasha, marido da Sr.ª Michelle, é positivamente simbólica para todos de qualquer etnia, que perseguem seus sonhos em cada lugar do continente, mas é inegável que este símbolo é muito mais forte para o povo negro. Obama, diferente de outros políticos, é ascendente do movimento social, formado em Direito pela Universidade de Harvard, foi líder comunitário, atuando como advogado pela causa dos direitos civis até sua eleição para senador pelo Estado de Illinois.
Sua ascenção é a tradução cultural da identidade pós moderna, aquela identidade que junto com as pessoas, Stuart Hall
[1] chama de dispersadas para sempre de sua terra natal, mas com fortes vínculos de seu lugar de origem. Estes líderes são protagonistas de mudanças revolucionárias em várias partes do globo, onde o destino os coloca. E sua colaboração é trazer o diferente, pensar para além do seu tempo. Esta identidade que Obama mostra ao mundo é o acolhimento de várias experiências passadas na Indonésia, Havaí, Quênia e nas diversas cidades dos estados norte-americanos.

No Brasil, com a provável vitória de um afro-americano se desenhando em uma das maiores potências do mundo, os editoriais e artigos da grande mídia já se pronunciavam uma semana antes contra o uso da identificação de Barak Hussein como negro. Esta questão de trato étnico e cultural deverá acompanhar toda a história do seu mandato.


Alguns fatos anteriores desenharam esta aquarela. Entre eles: a eleição para presidente do torneiro mecânico Luis Inácio Lula da Silva no Brasil em 2002, a força do povo venezuelano que recolocou o comandante Hugo Chaves no seu posto após um golpe de Estado costurado na Casa Branca e patrocinado pela elite venezuelana, a vitória do primeiro indígena na Bolívia em 2006, seguida da derrota do Partido Colorado no Paraguai que após 61 anos no poder, perdeu as eleições em 2008 para o “Bispo dos Pobres” Padre Fernando Lugo. E “para não dizer que não falamos das flôres”, em 2007 no concurso de Miss Universo entre as dez mais belas mulheres do planeta escolhida pelo jurí, três eram negras de países do continente africano e entre estas, uma era careca, quebrando todos os paradigmas identitários que tendiam a marcar este século como esquálido e anêmico. Sem falar na eleição das três mulheres pioneiras em seus países: Angela Merkel-a primeira chanceler da Alemanha, Ellen Johnson Sirleaf eleita presidente da Libéria e a primeira a assumir o poder em um país do continente africano e Michelle Bachelet que foi eleita agora como primeira presidente do Chile.
Os acontecimentos políticos são também culturais e por mais abstratos que pareçam estão reconstruindo identidades, revendo pontos de vistas. A globalização que diminuiu a fronteira da economia de mercado e atinge a todo o mundo, traz também novos símbolos e valores, produtos das mudanças constantes que o conhecimento das realidades mais longíquas, da civilização moderna, acaba influenciando e sendo influenciado pelo mundo globalizado.

Que saibam todos que hoje em qualquer parte do mundo, seja na América do Norte, seja no Quênia. Tudo é possível...

Entre as promessas de campanha de Barak Hussein está a retirada da base militar de Guantânamo em Cuba e a retirada até 2010 das tropas do Iraque. Como presidente de uma das maiores potências mundiais poderá fazer muito mais do que isso, e em suas entrevistas tem deixado claro sua intenção em caminhar em busca da paz. Com isso ganha o EUA que poderá investir em sua população o que investia em material bélico, ganha o mundo com a derrota dos partidários de George Bush, o senhor das guerras. Ganhamos todos nós que acreditamos que a história não é feita pelo desejo de um personagem, ela é dinâmica, está em constante processo de mudança e aperfeiçoamento do ser humano e isso nos obriga a não deixar de sonhar em um mundo diferente e justo. Temos muito a construir para que a evolução não seja só tecnológica ou científica mas atinja também através do entroncamento das culturas, a nossa alma.


Geraldo Bastos
Presidente do Gestar - Grupo de Estudo e Ação Racial

http://www.geraljongobastos.blogspot.com/
geraldobastosvencedor@gmail.com

[1] A identidade cultural na pós-modernidade – ( Stuart Hall 11ª edição, 2006)

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

JONGÁ CANTOS DE FÉ, DE TRABALHO E DE ORGIA


Na sua segunda edição o projeto Jongá - Cantos de Fé, de Trabalho e de Orgia, volta ampliado e ocupa nos dias 18, 19 e 20 de novembro, três ambientes da Caixa Cultural: a sala de oficinas, com workshops de percussão (às 14:30 horas); o Cinema 2 com sessões comentadas sobre a travessia do Atlântico Negro (17:30 horas) e o Teatro de Arena, onde serão apresentados espetáculos de Moçambique, Jongo e Caxambu (19:00 horas).
Os workshops serão ministrados pelo mestre Humberto Balogum, 85, um dos últimos guardiões da tradição Angola-Congo. Os filmes selecionados pelo jornalista, crítico e diretor de televisão Wagner Corrêa de Araújo vão refletir sobre aspectos da cultura brasileira e sua mestiçagem nas falas, nas danças e nos sotaques dos tambores, numa preparação para os musicais à noite, onde o ambiente do Teatro de Arena vai favorecer a interação do público com as culturas coletivas de terreiro.
“Se, na primeira edição – em novembro de 2007 – o projeto contemplava os saberes herdados da tradição Banta, nos Jongos; nos Lamentosos das Ladainhas e nas Toadas de trabalho nos canaviais, nesta edição, Jongá explora como estas matrizes dialogam com o entorno, seja no cinema, nas falas dos tambores ou nas terreiradas trazidas para o palco”, adianta o idealizador e curador do projeto, o escritor, etnomusicólogo e percussionista Délcio Teobaldo.
O projeto será aberto dia 18, pelo Moçambique de São Benedito do Marechal de Cunha (SP), comandado pelo patriarca José Jerome, 74, que este ano foi um dos mestres populares agraciados com o Prêmio Humberto Maracanã, do Ministério da Cultura. No dia seguinte, 19, a Comunidade de Sapezal, do mesmo município paulista, brinda o público com seu Jongo patriarcal (feito apenas por homens, como é tradição desta cultura). Jongá será fechado por Délcio Teobaldo, no dia 20, com uma roda de Caxambu que celebra os ritos de plantio, cuidados, colheita e gozo dos frutos da Terra.
Délcio Teobaldo, que este ano foi o quarto autor brasileiro a ganhar o “Barco a Vapor” (http://www.edicoessm.com.br)/, maior prêmio de literatura infanto-juvenil do mundo, instituído em oito países, se destitui de todos os saberes adquiridos para reverenciar a herança banta, judaico-cristã e cabocla, transmitida por seus pais e avós.
Através do Jongo incomum de Cunha, numa extremidade e do Caxambu fundamentado em arquétipos femininos apresentado por Délcio Teobaldo, no outro, Jongá discute e reavalia a rota do Atlântico como via de mão dupla; legitimação da nossa herança e identidade, da sua prática comunitária à exposição no mercado midiático, no ano em que são lembrados os 120 anos de Abolição da Escravatura (1888).

SERVIÇO
JONGÁ – CANTOS DE FÉ, DE TRABALHO E DE ORGIA
Humberto Balogum (Whorkshops – dias 18, 19, e 20, às 15:30hs)
Wagner Corrêa de Araújo (Sessões de cinema – dias 18, 19 e 20, às 17:30hs
Moçambique de São Benedito do Marechal de Cunha (São Paulo) dia 18, 19:00hs.
Jongo Patriarcal da Comunidade de Sapezal do Cunha (São Paulo), dia 19, 19:00hs.
Jongá, délcio teobaldo (tambor e canto); Lucá Rodrigues (percussão com talas de bananeira e coro); Ana Paula Dias (dança) dia 20, 19:00 horas.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

EDUCANDO PARA A BELEZA UNIVERSAL


Marcia Fortes

Vivemos um grande momento de grandes inovações tecnológicas em todas as áreas e na área de beleza as possibilidades de cosméticos e tratamentos estéticos parecem que atingem uma velocidade ainda maior. Várias clínicas oferecem alternativas que vão da drenagem linfática, botox e cremes “milagrosos” que prometem pele lisa eternamente. Alguns salões oferecem “escova inteligente”.

Até a morte da dona de casa de Goiânia Maria Eni da Silva, 33 anos, por choque anafilático em função de reação alérgica ao uso de formol, a escova progressiva era uma febre entre mulheres famosas e de classes populares para permanecer com os cabelos lisos.
Se por um lado podemos olhar para a população e ver refletido o efeito desses avanços nas pessoas que lançam mão cada vez mais (em todas as idades e classes sociais e étnicas) deste recurso, para elevar a auto estima, por outro este mesmo recurso que aparentemente eleva a auto estima não tem promovido de fato um crescimento interno que realmente nos faça entender o quanto somos capazes de sermos felizes para além das maquiagens dessas técnicas utilizadas.

Os tratamentos estéticos capilares e corporais tem a função de fazer-nos sentirmos melhores em relação a nossa aparência o que nos dá uma sensação de bem estar muito grande diante do espelho e outras pessoas no convívio social. São recursos que ajudam a criar possibilidades diferenciadas em nossa aparência física. E na medida que fazemos estas alterações nos comportamos de uma maneira mais positiva.
Porém se o uso destes recursos não vêem acompanhado de um processo educativo passamos a deixar de utilizar os recursos que podem nos beneficiar, para nos escondermos atrás deles, esquecendo que todo nosso potencial não é gerado por eles . Os recursos são criados por nós e não o contrário são nossos criadores, não podem ter o poder de servir de instrumentos para favorecer a ditadura da beleza.

Sabemos que no processo de amadurecimento natural nossas características físicas e felizmente cognitivas vão se alterando. Utilizamos a coloração para alterar a cor dos cabelos brancos que irão surgindo, técnicas antienvelhecimento para manter a pele jovem, mas precisamos saber que as nossas aparências, o nosso tempo vivido, todos os sucessos e insucessos é que formam quem somos e não há porque negar o tempo que se tem, sejamos homens ou mulheres.

É muito comum que pessoas de cabelos crespos busquem algum tipo de modificação nos fios para criar uma aparência diferenciadas como os cabelos mais lisos ou ondulados. Mas se repetimos com freqüência que esta mudança tem que ser feita em cima do rótulo de que o cabelo crespo é ruim isso dá sinais de que de alguma forma nos sentimos inferior, basta obsevar a forma como andamos (curva) e encaramos o mundo(capisbaixo). Sabemos que a origem deste comportamento está na forma de construção da identidade da população negra no Brasil que tem forte influência da escravidão que destruiu muito das nossas origens.
Crespo é uma característica do cabelo (negroide) como ondulado, liso. Ruim é um valor atribuído (qualidade). Se não soubermos distinguir entre característica e qualidade ficaremos presos aos recursos e não o utilizaremos a nosso favor.
As característica de cada um constrói a riqueza da diversidade. A qualidade neste caso (bom/ruim) nos coloca em hierarquias superiores, inferiores. Mas do que isso faz com que nos sintamos capazes de executar determinadas ações ou não, está ligado neste caso a capacidade.
Estas questões estão diretamente relacionadas ao processo educacional que em minha opinião tem como instituição principal a escola, mas abrange as famílias e a sociedade como um todo, em todos os seus setores.
É a educação para a autonomia que fará com que percebamos o quanto é preciso termos atitude que nos elevem, porque nós estamos no comando da nossa vida e de seus resultados

Cabeleireira Proprietária do Bella Immaginne - Centro de Beleza
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